Corrimentos vaginais

O corpo humano é revestido por dois tecidos diferentes: pele e mucosa. As mucosas são sempre úmidas, a exemplo da boca que produz saliva e dos olhos que produzem lágrima.

Seguindo o mesmo raciocínio, a vagina, por ser revestida por mucosa, é naturalmente úmida. Isto quer dizer que, toda mulher, sem exceção, apresenta secreção vaginal que se exterioriza na calcinha. A secreção considerada normal é translúcida ou branca-amarelada, ligeiramente viscosa e não traz consigo nenhum sintoma associado. Ou seja, não tem odor fétido, não coça e nem arde. Quando seca na calcinha, pode “esfarelar” ao esticarmos o tecido desta. Costuma estar em pequena quantidade logo após a menstruação; fica mais abundante no meio do ciclo menstrual (período fértil) em que adquire semelhança com a clara de ovo e permanece aumentada até o período menstrual. Isto não é considerado corrimento!

A coloração ligeiramente amarelada que muitas vezes acaba por ficar impregnada na roupa íntima e vai manchando as calcinhas com o tempo, deve-se à gordura, um dos componentes normais desta secreção.

Desconfie que algo está errado (corrimento) quando perceber secreção vaginal com cor diferente (ocre, verde, marrom, cinza), ou com sangramento, mudança da consistência (grumos que lembram queijo “Cottage”), coceira local, queimação, dor vaginal na relação, odor desagradável (de peixe por exemplo), fissuras ou edema (inchaço) na vulva ou ardência para urinar.

Com um ou mais destes sintomas presentes, você pode estar diante de uma vulvo-vaginite. Nestes casos, o parceiro também pode referir vermelhidão na glande do pênis, fissuras, “bolinhas” vermelhas e desconforto após a relação sexual.

Vulvo-vaginite é uma inflamação infecciosa ou não da mucosa vaginal e algumas vezes, da vulva e que deve ser tratada adequadamente após o exame ginecológico, em que o médico identifica o que está causando o desequilíbrio da flora. Há muitas causas para as vaginites, desde a contaminação vaginal por fezes (comum na infância por higiene inadequada) até a falta de hormônios na pós-menopausa (vaginite atrófica).

Nas mulheres em idade reprodutiva, geralmente as vaginites são infecciosas e muitos são os agentes que podem ocasioná-la. Qualquer desequilíbrio na nossa flora vaginal, que possui mais de 150 microorganismos disputando espaço, pode ser causa. Ela acontece quando um componente se sobressai sobre os demais. Pela freqüência em que ocorre, daremos destaque à candidíase.

A candidíase consiste na proliferação de fungos vaginais do tipo Candida sp .Toda vez que encontram um ambiente, quente e úmido, proliferam. Daí a maior incidência nos meses de verão, onde a freqüência em praias e piscinas e uso de roupas sintéticas (biquínis e sungas) aumentam. Em países onde o inverno é rigoroso, acontecem também nesta época pelo excesso de roupas. A incidência é maior também em algumas profissões em que o uso de meia-calça é mais freqüente (comissárias de bordo). Usar absorventes diários como os famosos “protetores de calcinha” também explicam as famosas “candidíases recorrentes” de muitas pacientes que nos procuram com esta queixa.

O tratamento consiste em se evitar os fatores predisponentes e, grande parte das vezes, associa-se medicação anti-fúngica específica, via oral e via vaginal. Seu médico pode preferir manipulá-los quando a dose precisar ser individualizada ou adequada a situações especiais. O parceiro é sempre envolvido no tratamento, devendo ser medicado mesmo que assintomático para evitar-se assim, recidivas na parceira.

Portanto:

• Não utilize absorventes diários; limite o uso destes ao período menstrual.

• Prefira calcinhas com o maior teor de algodão possível e use roupas mais soltas e ventiladas, especialmente no período pré-menstrual, fase de maior predisposição pela acentuada acidez fisiológica vaginal.

• Mantenha os genitais limpos com higiene diária local.

• Evite sabonetes íntimos que não tenham sido indicados por seu médico (muitos contém Triclosano e destroem as bactérias normais da flora , o que predispõe à proliferação fúngica).

• Evite “sprays” locais e duchas vaginais.

• Não aplique medicação sem exame ginecológico prévio. Ela pode alterar as caracteristicas da infecção e dificultar o diagnóstico correto por seu médico.

Com estes cuidados, você desfrutará de uma vida saudável, com menos desconfortos genitais para você e seu parceiro. Boa sorte!

Dra Flavia Kronfly

CRM 85.482

Ginecologia – Obstetrícia – Reprodução Humana Diagnósticos – Videolaparoscopia e Videohisteroscopia

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